sábado, 28 de setembro de 2013

Trovões

O tempo está a mudar. Esta frase aparentemente simples pode significar muito mais do que parece. Há trovões à porta de minha casa e flaches de luz a entrar na janela da sala e é só o início da manhã. Este Setembro tem sido parco em grandes novidades, há calor durante os dias da mudança, mas já pontuado por uma brisa marítima ao fim da tarde que chega até ao interior das antigas vilas piscatórias. Há este sentido de mudança que uma frase repetida muitas vezes começa a ter. O som do trovão, ou a lembrança do som de outros trovões, a luz claríssima do raio, e a mudança de rumo interior que acontece com a mudança de tempo exterior. É quase sempre assim.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Memorizar

O último olhar da varanda em direcção ao horizonte e à baía. A intenção é memorizar. Memorizar tudo o que se viveu naquela casa, naquele espaço e naquele terreno. Este momento iria chegar inevitavelmente, o momento em que nos despedimos e tentamos olhar fixamente para resgatar as imagens para dentro de nós. Isto já depois da selecção final dos objectos que queremos guardar e trazer. Há cadernos com desenhos, peças em barro, cadernetas do colégio, objectos da infância e da adolescência. Há alguns objectos que guardamos como relíquias e outros que deitamos fora porque não é possível acumular tudo o que vamos fazendo ao longo do tempo de vida. É para isso que serve a memória.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Frutificar

Escrevo uma canção sobre Nova Iorque no meio dos ensaios para o concerto do primeiro andar. O concerto correu bem, não esteve muita gente, estiveram os amigos, os que puderam ir. A sala de estar foi como uma grande sala de ensaios em que começamos a ficar mais confortáveis com a exposição pública, com a hipótese de errar e recomeçar. Durante o Verão não escrevi nenhuma canção, e agora que recomeço a ensaiar e a dar concertos começam a surgir novas melodias e mais canções. Por isso, mesmo que não haja muita gente a assistir os concertos têm este resultado, o da soma e da adição, porque quando não se alimenta não se frutifica.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Assentar

Ficou muito por escrever deste tempo que passou, numa estação quente em que viajámos até outro continente, em que regressámos ao sul, e que acabou nas praias do nosso Oeste. Agora começa tudo a assentar, como o pó que se levanta quando o vento passa. Vejo as rochas no meio das ondas, o imenso areal cheio de gente como nos outros anos e a diversidade dos bairros e das suas gentes de uma metrópole gigante. Este ano o Verão começou com a despedida e com o reencontro no outro lado do Oceano e acabou com o retorno à família mais próxima, às praias do meu país e às ruas da freguesia da minha cidade natal. A exploração foi completa e rica e agora preparo o regresso à escrita mais cheio e mais velho também.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fim da Estação

Talvez seja uma estação do ano a chegar ao fim, ou o tempo que passa e vai deixando marcas na areia. O mar revolto, ondas em choque e o vento a chiar. São os primeiros passos, o primeiro adeus, depois de uma temporada com os avós. A expressão de um sentido através de uma melodia, de uma letra, de uma composição simples e poderosa. É o fim da estação que chega, para que outro tempo venha na maré ou na lua que aparece no horizonte ao fim do dia. E o frio que começa a surgir quando já é noite e regressamos a casa.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Roy Lichtenstein



Drowning Girl
Roy Lichtenstein (1963)
Óleo e tinta acrílica sobre tela
171,6 cm × 169,5 cm
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, E.U.A.

domingo, 1 de setembro de 2013

Sol e Maresia

Início dos dias ainda no Algarve, a captar imagens e aproveitar os banhos e o tempo de lazer e descanso. E depois do regresso, ir ver o pôr do sol na costa a oeste de Lisboa na praia do sul. O tempo parece esticar-se e condensar-se ao mesmo tempo. Os dias parecem mais longos mas por outro lado mais condensados ou melhor aproveitados. Há mais sol e há mais mar. Sol e maresia. Depois há um movimento de retorno a estes dias em que mais do que escrever ou pensar, tentamos captar a essência daquilo que nos mantém mais vivos. Como se existisse na nossa memória um espaço para o mar inteiro e para todos os raios de sol.