terça-feira, 31 de julho de 2012

Personagem

O barco que parte, deixa o cais, e o cenário cheio de montanhas escarpadas e muito verdes. Depois o azul do mar, que fica na memória. Um estuário, uma montanha, caminhos que serpenteiam as falésias, das quais podemos cair. As personagens que ganham vida, o autor não as consegue dominar. A existência e a sua compreensão. A tentativa de a compreender. Os barcos, os comboios, os automóveis, as deslocações até aos sítios onde o homem constrói formas de lazer, junto à praia. Viver e morrer junto à praia. A personagem que encarna esse romance caiu pela falésia, nadou na foz do rio e encontrou a sua casa em forma de palhota, onde agora jaz e dorme, com o sol no horizonte.

sábado, 28 de julho de 2012

Verão na Cidade

Verão na cidade e as fitas-mistura. Sons remisturados numa só trilha sonora que parece que não acaba e acompanha o início e o fim de mais um dia de trabalho. Faixas de disco perdidas no tempo, ritmos de batidas com sintetizadores que se repetem e entrelaçam, mais o eixo África-Detroit via Luanda. Acompanham os pneus do autocarro amarelo e as rodas do metropolitano cinzento. A desatenção sobre o que se vai ouvindo por aí é cada vez maior e por isso a precisão na escolha dos ficheiros que coloco no meu leitor de faixas é cada vez mais cirúrgica. Isso e o bom ritmo e as letras irónicas do mais produtivo criador de canções cá do burgo. Assim se faz o bom Verão na cidade a nível de escolha sonora.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Cruzamento

A cor que se aproxima mais do momento presente é de um verde púrpura vivo em contraste com o fundo preto. É a divisão entre o que se reconhece e aquilo que é a aparência. Daí esta mistura de cores quase complementares e tão díspares. O equilíbrio e a esperança. A excentricidade e o individualismo. O cruzamento de ruas, os bairros e quarteirões e a sombra do início da tarde que se forma em frente aos prédios. As mensagens enviadas em espera de uma resposta que não chega, pois já não há ingenuidade no que se recebe e confunde-se a aparente sinceridade com o desnexo dos comportamentos anteriores. As cores, as ruas, as mensagens e a procura.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Uma Festa

Como seria de esperar celebrar a vida significa obviamente celebrar a morte. A súmula da vida. O que restará de nós para além da morte será pouco mais que a luz de uma vela que se apaga quando assinalamos mais um ano de vida. Uma festa de aniversário é um momento para marcar mais um ano de vida e também mais um ano próximo do último da nossa permanência neste mundo. Ao marcar de forma fixa o aniversário de uma personagem de uma canção do início do panque róque em Portugal, deixa-se mais uma bandeira no topo de um cume, uma bóia no alto mar, um foguete que segue até aos céus. A morte e a vida unidas num só propósito, a de um feliz aniversário.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Chão Quente

O quotidiano que se renova e o horário que se torna diurno. O dia e a sua luz revelam-se nas primeiras horas, quando o chão começa a aquecer até queimar os pés. O chão começa a ficar quente. Os transportes colectivos e avenida almirante que se desce a pé pelo lado da sombra. A mudança a alterar os percursos e a colocar novamente as ruas que já percorremos debaixo dos nossos passos. Talvez seja esta a forma de nos dirigirmos até ao nosso destino, seguindo a luz solar e aproveitando o dia desde o seu início. Quando o dia termina tarde e chegamos a casa já quase de madrugada, entende-se que o chão continua quente. Apenas porque o sol passou por mais um dia.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Thomas Cole












O Curso do Império: A Consumação do Império
Thomas Cole (1836)
Óleo sobre tela
129,5 cm × 193 cm
Sociedade Histórica de Nova Iorque, Nova Iorque, E.U.A.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pequeno Lago

As águas paradas diante de mim na beira da estrada e ao longe as águas do rio a dirigirem-se para o mar. Como seria bom que eu estivesse no rio a navegar em direcção ao mar alto. A turbulência e a agitação do mar seriam suficientes para acalmar esta indefinição e ajudariam a amainar os movimentos circulares de emoções que sinto quando olho para estas águas paradas enquanto aguardo o autocarro. Imagino então o mar nesta pequena poça, e acrescento as marés e as correnteza do fundo do mar. A mudança no mais pequeno lago que se apresenta à minha frente.

domingo, 8 de julho de 2012

Do Ciclo

O ciclo do qual escrevo revela uma série de acontecimentos que acontecem de uma forma determinada. Por alguma razão tudo tem um tempo para acontecer: o recorrente exemplo do ciclo da água. Aceitar o nosso destino significa compreender antes de mais que não depende só de nós. Nós fazemos parte dele e vamos moldando as nossas decisões àquilo que nos acontece e aquilo que acontece depende das nossas decisões. Os ciclos, seja de um período de estudos, seja de um período laboral, acontecem entre as resoluções e os factos. A semana que passou trouxe-me até ao fim de um ciclo e eu entendi que essa seria a melhor decisão. Porque tudo tem um tempo próprio para suceder.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Carta em tons de Azul

Hoje partilho uma canção e no vídeo que contém a canção há imagens de um filme que nunca vi. Retratam com actores uma realidade imaginada que acaba por ser reflexo de uma realidade real. A complexidade das relações humanas e a fragilidade que daí advém. É a história de um casal que é retratado, mas podiam ser dois amigos ou dois irmãos. A minha realidade actual confunde-se com uma película e com um argumento escrito por outros. Com a incompreensão dos outros, com a incapacidade de nos fazermos compreender. Das acções que fazemos e que não fazemos e das suas consequências. Esta é a minha carta em tons de azul para o dia que hoje começa.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Naquela Noite

A esquina do edifício amarelo e eu encostado à parede com o capuz. Olho para as letras avermelhadas que acendem e apagam, para os táxis que param. Trazem os trabalhadores que regressam a casa, tal como eu. Eu parado estou naquela esquina, com uma das solas dos sapatos encostada à parede e outro pé no chão em equilíbrio. Olho de forma fixa uma determinada área do meu campo de visão, para ver melhor e apuradamente. De noite é mais difícil identificar o que vemos, mas as luzes da cidade ajudam e se olharmos atentamente acabamos por encontrar aquilo que procuramos. Tal como eu encontrei aquilo que procurava naquela noite.