domingo, 29 de abril de 2012

Complexidade

A qualidade do que é complexo, pois encerra várias ideias. No princípio existe a diversidade, a quantidade de pensamentos e lógicas, para depois tudo se tornar paradoxal. Contrário a tudo por princípio. A tal ideia de Agostinho da Silva: "São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim". Obviamente isto contém a complexidade total. Como ser discípulo se estou contra o meu mestre? É precisamente isto: devemos sempre pensar por nós próprios, acreditando e confiando que tudo depende de nós. Sabendo sempre, no entanto, que tudo depende apenas Dele. A fé e a razão, a complexidade e o conhecimento.

sábado, 28 de abril de 2012

Visualização

A lentidão e a profundidade das batidas que escuto numa manhã de nuvens negras cerradas. Combina-se um brunch com a família e imagina-se o resto do dia. A visualização de um dia de partilha e de trabalho, e a noite no fim do dia. Tudo vertiginosamente a avançar, as negras nuvens em choque, a ribombar. Acordar no quarto escuro, sair para a rua, ver os pingos fortes da chuva a cair nas poças nas bordas das estradas e nas pedras. Estacionar o veículo no parque de estacionamento e dirigir-me para o meu posto de trabalho, e no fim do dia voltar ao quarto que já está sem luz e adormecer.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Da Liberdade

A liberdade de poder sentir tudo e ouvir os pássaros a cantar. A chilrear, emitindo sons no mesmo tom em intervalos de tempo curtos. Anunciando novamente a estação das flores, onde o primeiro aniversário da cerimónia se cumpre. A liberdade conduziu-nos à nossa escolha. A responsabilidade orienta-nos nessa escolha. Como um pássaro que voa no céu, ao sabor do vento que sopra. Num bater de asas rumo ao destino que se cumpre diariamente, nascido numa manhã clara de sol primaveril. Ali somos livres, porque fomos capazes de escolher o nosso caminho.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Suspensão

A explosão de uma nuvem em forma de cogumelo da bomba atómica, por trás das montanhas da serra da Arrábida. De uma maneira aparentemente inofensiva vai avançando devagar como as ondas debaixo do mar quando há um sismo na crosta terrestre debaixo do manto de água que cobre a maioria do planeta. A água na atmosfera, em corpúsculos moleculares sólidos e líquidos, que dá origem à imagem que vejo retrocedendo àquele tempo. A suspensão da substância mais essencial à vida, que percorre o ciclo desde a condensação, precipitação, infiltração, armazenamento e evaporação. O tempo também tem esta capacidade de suspensão.

sábado, 21 de abril de 2012

Abismo Profundo

A flutuar em sentido ao abismo de uma chama torpe que se apaga no chão que piso junto daquele cais. O sentido inverso ao dos ponteiros do relógio, agarrando o tempo que já não foi, não é e nunca será. O precipício ali tão perto e a destreza de o olhar de frente porque não há medo nem receio de mirá-lo. Este atrevimento é próprio dos que ambicionam a audacidade. O segredo será não fitar esse abismo profundo durante muito tempo. Agarramos esse tempo e transformamos as horas em microsegundos e nada acontece. Porque nunca se deve cair na profundeza do abismo.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Declaração

A luz que irrompe diante do meu olhar, que fulge e queima, e termina com qualquer hipótese de protecção. O fascínio de um olhar que é apenas isso mesmo. O deslumbramento é imediato, tal como a noção da complexidade que acompanha toda esta nova realidade. Com a sinceridade e a coragem de assumir tudo o que sinto, agarro o meu coração e faço da razão o meu lema: o único sentido é o amor. Sentido único e obrigatório. És minha mulher, és minha vida, és minha família. És o meu amor. Exaltem os anjos e soem as trombetas pois este é o primeiro ano do resto dos nossos anos.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Roças de Café

A imaginação que trazemos de sítios distantes, de histórias que terão acontecido, leva-nos a pensar um tempo diferente, perdido algures entre a bruma que cai da montanha. Os animais que se cruzam no nosso passado, a nossa origem, também revelam que não somos perenes. Chegamos aqui porque há uma genealogia e uma hereditariedade. E muitas histórias que se passaram e que ficaram perdidas para sempre. Todos sabemos como isto acaba, no entanto só nós próprios é que sabemos como vamos e como fazemos. Controlamos o nosso destino, imaginamos a nossa própria história e as memórias ficam para trás, nas roças de café que antes de nós alguém plantou.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Acréscimo

A recuperação das canções que já não escutamos há algum tempo traz consigo uma nova dimensão que não se verificava anteriormente. Tenho recuperado as canções da banda Animal Collective. Pela sua importância, também. Não há muitas bandas assim da minha geração. Também porque me apetece ouvir estas canções de novo e de forma recorrente. Para conhecer mais e melhor, sem outro objectivo que não a fruição. Também por isso a dimensão que é acrescentada depois da repetição de cada canção é mais sincera e fiel. Para demonstrá-lo acrescento um teledisco da banda para a canção "Peacebone". Para que se verifique de novo o acréscimo desta medida.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ventania

O ar atmosférico que se desloca moderadamente neste mês de silêncio e introspecção. A consciência tem esta maneira de conversar connosco, agitando as ideias como o ar que em deslocação transfere as partículas de um lado para outro. As mensagens são enviadas e transmitidas sem obtenção de uma garantia de recebimento e leitura. Serão os pensamentos que temos a melhor forma para tomar as decisões que foram analisadas e discernidas e que acreditamos serem as melhores naquele dado período de tempo. Assim que a deslocação do ar volte a acalmar, as decisões tomadas também terão o seu recalque e a sua confirmação. Até à próxima ventania.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Canções e Baterias

O som pastelão das amostras que um dia ficaram perdidas dentro de um disco rígido. As letras que entretanto se foram construindo à volta das repetições. A voz grave e cavada que se aproxima perigosamente de um tom de quase zumbido. O alinhamento pensado, um título criado e o esquema de um disco imaginado, e para o qual já quase só falta uma capa. O tema é uma aula, uma lição sobre o que poderia ter sido. As imagens de um sonho imaginado que se irá concretizar em breve. Sonhos pópe transformados em canções e algumas baterias pelo meio, como que a colar cada uma das partes de um todo comum. A data certa aproxima-se.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Dias de Páscoa

As recordações dos dias de Páscoa levam-me para as terras do Norte de Portugal, para Guimarães e para o Paço. Do encontro familiar e da recepção do compasso. Decorávamos os caminhos com pétalas de flores desde o portão grande até à porta de entrada da casa. Corríamos por entre as vinhas até ao topo do terreno, onde ficavam as colmeias e o mel. Sentíamos o frio da água do tanque, que jorrava para a terra por entre as pedras. Aquele terreno e aquela casa de família alberga muitas outras memórias. Agora fazemos nós de compasso e visitamos as capelas de família a desejar a Santa Páscoa e a clamar aleluia do fundo das nossas goelas.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Património Linguístico

A adulteração da língua portuguesa continua a avançar quase impávida e serena. Ao abrigo da unificação de uma ortografia que já não tem um todo comum, apenas ramos de uma língua em constante mutação pelos quatro cantos do mundo, opta-se por obrigar os portugueses a escreverem sem a acentuação das consoantes mudas, os brasileiros a abdicar o seu querido trema e os acentos em palavras quando lhes convém, e todos os outros a deixarem os hífens que separam logicamente duas palavras diferentes. Maiúsculas que desaparecem porque as estações do ano já não as merecem. Finalmente a dupla grafia que anula qualquer tipo de unificação. Sejamos inteligentes e defendamos o nosso património linguístico.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Da Passagem

A sucessão de momentos que acontecem continua a decorrer. A santa semana que anuncia a centralidade de mais um tempo pascal, tempo de passagem. Pensar na passagem é pensar em algo absolutamente novo. A procura pela novidade, modificando as atitudes e os comportamentos, renovando continuamente a palavra e o pensamento. Sobretudo o exercitar de novo, movimentando o nosso corpo num circuito de corrida no nosso interior. A isto tudo se chama passagem, neste espaço e neste tempo. Também as canções podem desempenhar um papel neste quotidiano. A montagem do sistema de som que esteva parado há meses pode ajudar a explicar todo este anúncio. De uma passagem que está sempre a acontecer.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Domingo de Ramos

No Domingo de Ramos é costume a família juntar-se para almoçar. Este ano não foi excepção. A família é uma realidade formada por duas pessoas e depois pelos seus descendentes e mais tarde pelos descendentes dos descendentes. E no último domingo foi quase assim. Estavam praticamente reunidos todos os descendentes dos meus avós paternos. Só esse facto em si transporta consigo uma grande alegria. Apesar das modificações que a nossa família sofreu, ainda hoje é possível reunir todos os membros debaixo do mesmo tecto. Para celebrar a família e também os aniversários de quem os completou há poucos dias. A reunião da família para apreciá-la e para que esta se torne duradoura.