segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nitidez

A distância pode aumentar a nitidez com a qual se olha uma imagem ou um percurso. O afastamento pressupõe uma visão mais clara dos actos que cometemos. O compromisso e a promessa tornam-se mais claros pois à medida que nos movemos de um lugar para outro nos damos conta daquilo que vai permanecendo na mesma. Essa imagem é aquilo que imaginámos e esta se vai convertendo na realidade que construímos. A nitidez tem muita semelhança com a utilização do foco de uma máquina fotográfica. Abrimos os olhos e primeiro vemos sombras e as cores não são definidas, para mais tarde repararmos em todas as rugas e em todas as tonalidades dos brancos e dos pretos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Apocalipse



O fascínio de um planeta que colide com o nosso e tudo o que de apocalíptico isto tem. Dividido em duas partes e um prólogo, de imagens em câmara lenta de acções surreais, acerca de um estado de alma. Que tanto pode ser um corpo que nos atinge ou uma apatia geral por tudo o que nos rodeia, até nos momentos mais importantes da nossa existência. Não se pense que a segunda parte do filme, onde se atinge o apogeu das imagens, dos banhos de lua ao colidir final de dois corpos celestes, é mais interessante. Até será. Mas a primeira parte, aparentemente mais enfadonha, tem também no virar de uma curva de uma limusina o caminho aberto para a tristeza profunda e duradoura. Fascinante Apocalipse.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Representação

O peso da responsabilidade e a actuação sob um papel. Apesar de tudo é a representação que por vezes nos move para a frente. Representar o que somos, ou aquilo em que acreditamos, mas que todos os dias colocamos em dúvida. Avançar através desta exposição diária que nos responsabiliza para os actos que cometemos e para as palavras que dizemos. O intervalo de tempo entre uma exposição e outra passados alguns dias faz parte da aparição esporádica do nosso espírito e da nossa alma perante outros espíritos e outras almas. Representando revelamos e mostramos aquilo que somos, como um exercício de figuração permanente.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Esquecida e Antiga

A cidade e os seus sítios esquecidos e proscritos virada a sudeste. Subindo a rua que vem de Xabregas até chegar à Bela Vista. De um lado o cemitério da parte oriental da cidade e o bairro da Madredeus do outro, e uma visão do antigo e do que foi abandonado. Chegar ao cimo e observar as hortas urbanas e as torres dos bairros sociais, uma urbanidade caótica e sem regras. Passar pela igreja e pelo convento, sob as linhas férreas, observando as azinhagas e as ruas que outrora subiam as colinas e hoje são ruas cortadas e becos sem saída. Visões de um dia-a-dia comum na cidade que habito. Esquecida e antiga, verdejante e desordenada, voltada a oriente.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Fogo de Artifício

O acaso do encontro
as paixões em confronto
e ali tudo era amor
e o sonho de algo maior

Meia-noite
Meia-noite
Fogo defronte

A certeza de um caminho
arroz no chão e rosmaninho
serás minha aqui agora
serei teu futuro afora

Brava fé naquele destino
a emoção que dobra o sino
impossível não vislumbrar
uma vida a partilhar

É meia-noite

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Caminho Beleza

Vamos pelo caminho mais bonito. Junto ao rio e junto ao mar. O mar dourado. A passagem pelo grande navio em Santa Apolónia, a foz do rio a desembocar no oceano no alto de Caxias, perto do farol e a regata de barcos à vela na baía. O esplendor do início da tarde de uma Primavera antecipada ou o prorrogar de um destino sempre em flor. Pela nossa riviera, a magnífica costa do sol. À procura da beleza de forma fixa e firme. Na paisagem e na própria vida. Acabar depois de tudo isto a apanhar laranjas e limões do quintal abaixo da piscina, verdadeira dádiva natural das árvores de fruto que nascem no terreno fértil. Plantar para recolher e aproveitar o caminho que termina em quarto minguante.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Boa Fé Tropical

A boa fé e a tropicalidade, como actos imperiosos para dias gélidos como os que estão. Acreditar na nossa visão na totalidade, pois foram as nossas acções que deram início a tudo. Crer no calor que os raios solares possuem e levar essa temperatura equatorial a todo o lado. O ritmo da batucada, o bruaá das festas e da romaria, o sorriso estampado no rosto e a saia rodada em movimento pendular. A energia que se extrai da combinação destes dois factores é assombrosa. A convicção no bem e o ambiente tropical. Cantar sobre isto tudo é um dever e sobretudo uma cura. Como na tradição do candomblé, espalhando magia enquanto secamos as nossas lágrimas.