As Portas do Sol

Os Capitães da Areia. Da esquerda para a direita, Tiago, Vasco, Pedro, Fred e António.

Reclusão

O tempo de reclusão ou de privação da liberdade tem origem na reorganização do sentido para a nossa vida. Pode ser imposta por nós próprios ou então pela própria sociedade. Tem uma conotação negativa pois vivemos num tempo em que a liberdade é o valor maior. Mas a privação da liberdade para um dia voltarmos mais fortes e mais justos e por isso mais livres deveria ser olhada de uma forma positiva e a reclusão, ou o retiro, poderia até mesmo ser incentivada. A reclusão sobre a qual escrevo é sobretudo mental e não física. A justiça e o amor irão prevalecer sempre após este tempo de reclusão.

Até aos Ossos

O fim pode chegar em qualquer dia. Abaixo a fatalidade do amor e da vida, a morte e o ódio terão sempre o seu lugar. Quando aparecem o ódio e a morte, a sua combinação manifesta-se de forma perversa e subtil, trazendo ao de cima o pior do que cada um pode ser capaz de realizar e demonstrar. Sem entendermos, vamos deixando a teia dos maus sentimentos instalar-se no meio e no centro do nosso ser. A confusão instala-se e o tal tempo dos passeios permanece. As caminhadas nocturnas em busca dos animais selvagens que devorem a nossa carne até aos ossos, para não sobrar nada senão as cinzas do que nós fomos.

Feliz Aniversário

Todos os outros aniversários poderiam ser assim. Uma festa em casa com surpresas preparadas e vinho espumante que é aberto precisamente na trave que separa um dia do outro. Gelado com chocolate quente e a leitura dos signos do zodíaco para preparar bem o dia e o futuro. Alegria aos molhos e alecrim dourado no ecrã do computador, sorriso livre dos ferros nos dentes que antes os endireitavam e brilho no olhar de felicidade. Se a alegria não puder ser partilhada e vivida será uma simples perda de tempo. É este o testemunho que deixamos e esta é a melhor forma que o sabemos fazer. E um desejo de um feliz aniversário.

Semi-Balanço

Os concertos barreirenses correm como a água que flui para o mar. Nos concertos daquela sala gigante da Companhia União Fabril reparei que um teclado e uma luz pode ter mais impacto melódico que uma guitarra, uma voz e muito ritmo com o volume altíssimo e as suas imagens intensas e luminosas. Já no concerto de agora junto ao rio, na sala mínima dos mapas e cartas náuticas do Clube Naval, a senhora de dedos que brilham brincava com os sintetizadores e as batidas conseguindo embalar até os cães. O rio e do outro lado a urbe e as suas luzes. De um lado a cidade-dormitório e do outro a cidade, e os seus clubes do sodré, que não quer e nem sabe dormir.

Ao Barreiro

O Barreiro é na outra margem do rio Tejo e se imaginarmos Lisboa como a nossa Manhattan, podemos imaginar de maneira livre o Barreiro como a Brooklyn da grande cidade. Isto para explicar que o Barreiro, por estar à margem, tem descoberto antes o que outros vêm a descobrir mais tarde, formando uma comunidade que se mexe com empenho e vontade, tornando a cidade um ponto de passagem obrigatório para quem quer assistir a bons concertos a preços convidativos de bandas e artistas que vêm do estrangeiro. A propósito do OUT.FEST sigo em direcção ao Barreiro, para recuperar na agenda os concertos que tenho perdido ao longo deste ano.

Destino Traçado

Há dias afirmava que ainda há muito por fazer e é um facto que há. Olhando de uma forma mais desapaixonada também concluo que já muito foi feito. O trilho está desbravado, por bravas gentes que colocaram em prática as suas ideias com a ajuda de outros, e juntos foram alcançando as metas propostas, por formas enviesadas mas constantes. Ajudar os outros faz-nos entender o nosso próprio destino. E é esse destino que começa a ficar mais límpido e concreto à medida que o tempo passa. O rumo de outros foi traçado com a nossa ajuda. O nosso rumo será traçado apenas e somente por nós. Para todo o sempre.

Frank Lloyd Wright

Casa da Cascata
Frank Lloyd Wright (1936 - 1939)
Arquitectura
Bear Run, Pennsylvania, Estados Unidos da América

Dias de Tempestade

Manhã de tempestade e vento de sudoeste como num início típico de um dia de Outono. Cansaço acumulado de três noites de concertos de seguida. Na noite do Ferroviário e da estreia de teledisco, como antigamente se fazia, a Feromona fez transpirar a sala pequena da bola de espelhos e luzes fluorescentes e ontem, no arraial do caloiro do Técnico, no lado Oeste do melhor anfiteatro lisboeta, Os Pontos Negros oleados puseram a dançar as universitárias e o Diabo na Cruz tradicional e roqueiro colocou os estudantes no moche em roda. Grandes concertos nestes dias de tempestade. Bom de ver e de sentir.

Agradecimento especial

No Convento das Bernardas da Rua da Esperança solidificaram-se as vontades de uma banda nobre, de quatro rapazes que chutam as bolas perdidas e encantam as raparigas. O concerto do claustro antigo ficará na minha memória pelas caras que recebi no fim da escadaria, sorrisos e apertos de mão, olhares de entusiasmo e expectativa e um concerto seguro e apaixonado da banda que vi nascer e crescer. A presença de parte de uma geração que admiramos, a dos anos 80, também me orgulhou. Em particular do Rui Pregal da Cunha, que nos ofereceu com Os Golpes a magnífica "Paixão". Agradecimento especial a estes quatro rapazes por uma noite tão bonita.