sábado, 27 de fevereiro de 2010

Floresta e Anarquia

É interessante ler este artigo publicado no jornal da última quinta-feira. No artigo é referido que no futuro a experiência comunitária se fragmentará cada vez mais e os ícones agregadores serão cada vez mais votados à indiferença. Verdade. Isto também acontecerá devido a profusão de bandas, canções, estilos, linguagens, formatos e devido à inevitável continuação de perda de poder das grandes corporações. A anarquia chegou às canções e a próxima década irá reforçá-la. O que é bom ou icónico para mim será mau e indiferente para ti. Ontem assistia aos Fiery Furnaces e só queria ter as Brilliant Colors à minha frente e tudo em alegre dança comunitária como uma floresta de árvores sem raiz.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mortificação

Estes dias são propícios a balanços. Quando há pontos de viragem no pensamento e na linha editorial estes têm de ser assinalados. Ao olhar com alguma distância para alguns episódios do passado concluo que algumas reacções que tive nesse passado foram de certa maneira desproporcionais. Desproporcionais por valorização em excesso e por algum respeito sobre aquilo que se escrevia. Hoje já não lhes daria a atenção que dei. Não é um arrependimento mas sim uma constatação. São palavras de mortificação. A morte de um pensamento e abandono da defesa irracional de coisas que se defendem por si próprias. Foi necessário passar por ali para chegar aqui e nunca existiu tal coisa como má publicidade.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Mondrian



Broadway Boogie Woogie
Piet Mondrian (1942-1943)
Óleo sobre tela
127 × 127 cm
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, E.U.A.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Da Obrigatoriedade

Sabe bem começar a voltar ao tempo em que não tinha nenhuma espécie de compromisso com algo. Ia a eventos como quem vai a casamentos, quando surgia. Nada será mais aterrador que ficar preso à obrigação de comparecer a tudo o que mexe e estar à frente de todos os outros. Felizmente passei a fase da obrigatoriedade e do avanço no tempo. Não existe nada mais obrigatório que o meu caminho e as minhas decisões. O egoísmo em excesso é mau, mas a clausura num mundo feito por outros é ainda pior. Assusta bastante compreender a reacção a uma crítica menos positiva a um concerto que é espectacular, único e inigualável. Ainda que seja tudo isso. Ah, este ano não vou ao Primavera Sound e ainda bem.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Bens imobiliários

O regresso aos concertos fez-se ontem, com os Real Estate no aquário do Bairro Alto. Confessar, para já, que frequento cada vez menos o Bairro Alto e só o visito de vez em quando nas noites de concerto. Partilhar que o concerto foi bom. Porém não se assistiu a nenhuma revelação ou o público em modo estádio, a cantar as melodias em uníssono, como já aconteceu noutros concertos que assisti este ano. O responsável pela mistura puxou pelos médios-agudos e consegui ouvir na perfeição o entrelaçamento das melodias das duas guitarras, provocando uma ligeira dor nas horas seguintes. "Suburban Beverage", "Fake Blues" e "Beach Comber", por esta ordem, as melhores da noite. A provar que há coisas que estão para lá dos bens imobiliários.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Cinzas

Ontem foi quarta-feira de cinzas e iniciou-se a Quaresma. A Quaresma é um tempo de deserto. É um tempo de silêncio e de jejum e também de tentações. Nos últimos meses os dias seguiram-se aos dias em ritmo acelerado. Faço deste tempo o tempo de paragem para olhar e encontrar o rumo que já foi decidido há muitos anos e inevitavelmente tem sido colocado de lado. Oração e coração limpo, de modo a enfrentar os perigos de uma vida em que o mais importante é sempre adiado por falta de horários. Integrar no dia-a-dia todo este modo de ser e de actuar. A vontade do amor acima de todas as outras. E que daqui a uns anos me julguem mais pelos meus actos do que pelas minhas palavras.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Arca Preta



A imagem que vêm aqui acima é a fotografia de Lee "Scratch" Perry no estúdio The Black Ark. Lee "Scratch" Perry, um dos inventores do dub e também um dos maiores produtores da história. O dub é mais do que um género musical. Começa com as versões para canções existentes, com foco na bateria e no baixo, de modo a passar nos sistemas de som para dançar. A parte instrumental é afogada em eco e reverberação. Foi no estúdio The Black Ark que Lee "Scratch" Perry aprimorou a fórmula de produção, investindo no material desde a captação até à monição e no próprio espaço físico, para na companhia dos Upsetters e muitos outros criar o melhor som dub de sempre. Depois da Arca Preta, o dub é praticamente uma filosofia.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Bónus local

Confirmou-se aquilo que eu disse algures por aí. A última sexta-feira foi mesmo DâM-FunK com bónus local. Não que o Panda Bear seja mediano, não é. No entanto a noite foi do rei do boogui-fanque. DâM-FunK é o modelo perfeito de DJ do futuro. É mais que um DJ, porque canta e comunica por cima dos ritmos e melodias que produziu ao vivo e usa um sintetizador-guitarra, que mais tarde vim a descobrir que se chama Keytar. É o maior. Panda Bear saiu ofuscado, portanto. Mas lá está, o que apresentou mostra que está ouvir as coisas certas e a inventar um caminho novo. Posso quase jurar que no concerto usou amostras dos Teengirl Fantasy e de Burial e a guitarra foi oferecida pelo Bradford Cox. Foi apenas um bónus local.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Implosão

Não é costume aqui na Ribeira completar entradas anteriores, tal como não é hábito terminar os textos com anástrofes. Faço uma excepção e completo o texto anterior. Quando falo em explosão quero dizer isso mesmo. Uma explosão caracteriza-se por um súbito aumento de volume com grande libertação de energia deixando inúmeros destroços quando termina. Com o passar do tempo uns ganharão projecção e outros serão esquecidos. Paradoxalmente penso também numa outra imagem de forma a completar esta metáfora. Como habito no futuro imagino que, a nível pessoal, os próximos anos serão anos de implosão. O tempo pede concentração e regresso à terra. Não existe desafio maior.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Explosão

Esta entrada estava para ser uma nomeação de bandas, projectos, cantores-autores que surgiram nos últimos anos devido à abertura e adubação de terreno por parte de uma série de editoras, companhias e projectos que surgiram para o público também nos últimos anos. Mas seria uma entrada extensa demais e podia cair no risco de me esquecer de alguém. Hoje já ninguém duvida que há um grupo de gente que arrisca e colabora em prol de uma pópe portuguesa que existe e não tem vergonha de cantar alto. Hoje há um caminho amplo e largo, que não foi fácil abrir e cultivar. O público apareceu e segue as nossas pisadas com atenção. Preparados estão para os anos da explosão.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Da Coerência

Já afirmei diversas vezes que este blogue é um blogue de Hip Hop. É um blogue de Hip Hop no estilo e não na forma. Na forma é outra coisa, um misto de relato diário de acontecimentos próximos com partilha de momentos que me despertaram a atenção, também um pouco de divulgação de conteúdo pessoal e transmissível, seja de origem individual ou colectiva, e alguns mini-manifestos para apimentar tudo e é aí que entra o estilo. E não pensar muito antes de carregar em publicar, se não nem valia a pena ter este blogue. Com o tempo começo a pensar cada vez mais no que escrevo e isso já representa um estado próximo do fim. Procurar alguma forma de coerência nisto tudo é pura perda de tempo. O mais incoerente é aquele que não sabe que é incoerente.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Concertos Perdidos

Acompanho as notícias da confirmação dos grandes concertos para os próximos meses com alguma indiferença. Este ano, além de ser um ano de desafio, é também um ano de alguma racionalidade económica e de escolhas de investimento. O Coliseu dos Recreios vai receber nos próximos meses os Sonic Youth e os Grizzly Bear, e ao que parece a procura de bilhetes está ao rubro. Provavelmente não irei a nenhum dos concertos. A altura para decidir se quero assistir aos concertos não é esta. Já vi ao vivo as duas bandas e isso já ajuda bastante na decisão e entre investir em concertos ou em instrumentos de gravação escolho a segunda. E até decisão em contrário serão desde já os meus concertos perdidos do ano.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Alternar Discos

Já na próxima sexta-feira, amanhã portanto, vou alternar discos no Cabaret Maxime anunciando o retorno d'Os Velhos à cidade que os viu nascer. Não prometo grandes passagens ou grandes novidades, apenas os bons e os velhos clássicos. O que ando a ouvir é cada vez mais editado de forma limitada, e em vinil ou em cassete. Às quinhentas unidades, se tanto. Por isso, alternar discos é um regresso ao passado recente de consumismo e de uma certa irracionalidade na compra de objectos que valem, afinal, pouco mais que uma dança. Amanhã cravo uns discos, compro uma compilação e componho o ramalhete com os meus discos compactos. A não perder.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Natureza Humana



Finalmente um filme que me enche as medidas. "O Laço Branco" de Michael Haneke. O preto e branco, a fotografia, a ausência de banda sonora, a direcção de actores, o guarda-roupa e a descrição de uma época e o classicismo na filmagem. Tudo tão belo e violento. Sem nenhuma tentativa de mostrar tudo, o cinema é sobretudo imaginação e fantasia, mas de um realismo atroz. A alegoria da sociedade através da passagem das estações do ano numa aldeia alemã do início do século XX. A luta de classes, a religião, a filiação e a moral. A natureza humana, o livre arbítrio, a culpa e a origem do mal. Um filme sobre a ausência de amor e sobre a má interpretação humana do divino.