domingo, 29 de agosto de 2010

Vôo de Papagaio

Fui breve. Estar de volta é olhar para trás de relance e lembrar a paisagem daquela urbanização construída sobre o mar e no meio das dunas, que um dia vai acabar engolida pelo oceano. Ver de novo a praia cheia de famílias de chapéus de sol e milhares de cadeiras viradas de frente para o mar e ouvir a ladainha dos vendedores a ser entoada numa voz metalizada e as colmeias de cabelo no cocuruto. À noite o caminho no passeio marítimo e observar as lojas de bóias, raquetas, barcos, bonecos, malas, pulseiras, anéis, vestidos e camisolas de bandas duras. E tornar este lugar, feito de pressão urbana defronte o mar, um lançar de papagaio que roda três vezes para a direita e mais três vezes para o lado contrário e voa sem parar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Até Breve

Amanhã parto para mais umas férias. Aquele tempo em que não há nenhuma responsabilidade com horários e compromissos laborais. Pela primeira vez em família alargada, o futuro será muito assim. A família é e será sempre o elo mais importante e mais fulcral para as nossas vidas. Enquanto não partimos, imaginamos a nossa banda sonora e escolhemos os ficheiros que poderão ser escutados no meio daquela pasmaceira espanhola. Por aqui o blogue ficará parado. Pensei em deixar alguma peça sonora para estes dias de ausência. A preferência recaiu sobre um registo de um concerto de Infinity Window, de Daniel Lopatin e Taylor Richardson, em 2008. Até breve.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Antigo Oceano

Aguardo as montagens finais dos quatro telediscos que vêm aí e oiço um disco muito actual. A tendência da temporada são as canções lentas e melosas, com batidas por minuto cá em baixo para soar como a suavidade de outros tempos. Ou então recuperam-se as canções de antigamente. A "I'm Not In Love" dos 10cc ou a "Against All Odds" do Phil Collins. Ou então fases de bandas inteiras como os Fleetwood Mac. A recuperação do passado é evidente e assumida neste disco que oiço, apesar da produção moderna e os momentos mais prolongados o disfarçarem por vezes. Morrerei novo, canta-se. Eu não, morrerei velho. Antigo e a olhar para o oceano e a pensar no mar que nunca percorri lentamente.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ditadura do Gosto Pessoal

Será o nosso gosto pessoal a melhor forma de decidir o que é realmente bom e belo? Obviamente não. A resposta é fácil demais para existirem enganos. O gosto ou a falta dele envolve um conjunto de variáveis tais, desde os mais óbvios como os sentidos, aos menos óbvios como a educação e a cultura. É demasiado subjectivo e falha vezes demais. Devemos pois duvidar do nosso gosto pessoal e colocá-lo em causa. O que é bom ou não, em termos artísticos, depende de um conjunto de circunstâncias tão vastas como o tempo, o espaço e a própria circunstância. Está escrito que o belo é a soma todos os gostos pessoais. Como posso acreditar que o belo é a soma de algo que se engana e falha. Contra a ditadura do gosto pessoal aqui afirmo: o belo é alegria e o divino.

domingo, 15 de agosto de 2010

Homens-alma

Aos poucos e poucos fui deixando de escrever sobre a minha relação particular com a manifestação artística que é a música. A produção tem um efeito perverso e a partir de um certo momento em vez de estarmos atentos à alma da canção, colamo-nos à parte técnica do som. Se está cavado e longínquo, se tem muitos ou poucos arranjos, quais as repetições e ideias melódicas. A organização de sons ao longo de um tempo específico. A emoção é só efeito sensorial. Vale imenso, por esta razão específica, descobrir homens-alma. Cornell Campbell é um desses Homens-alma. Oiçam então este conjunto de pedaços de sons unidos para confortar o espaço.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Namoro

E amanhã regressamos ao vídeo. Acordar com a alvorada, colocar o farnel na viatura e aguardar a outra viatura que ficará registada para a posteridade. Enquanto aguardamos, invadimos a praia e o pinhal, com as toalhas, o guarda-sol e os livros. Sorrimos, cantamos, dançamos e jogamos às escondidas atrás dos troncos dos pinheiros. Depois regressamos no clássico mais antigo, pela via rápida, rumo à ponte sobre o Tejo. De volta à nossa cidade mítica. Olhamos as ruas largas e chegamos de novo ao jardim e ao centro das nossas vidas. A nossa longa vida inicia-se ali, o namoro que o romance criou, a família que o matrimónio irá gerar.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Rumo ao Infinito

E correu tudo como era esperado. O passeio de barco a remos no Campo Grande, um dia de calor tórrido passado a registar imagens em movimento. Os turistas no autocarro, o caminho das bicicletas, os patos no lago a comer batatas fritas, a estátua da beldade helénica e nós no barco a remar rumo ao infinito. Romantismo e realismo, juntos outra vez, numa conjugação de amor e eternidade. Os filtros de luz e as lentes fizeram o resto e agora vem o segundo dia de filmagens junto ao mar. Foi bom esperar por este mês, onde todos estão nas filas da estação para comprar o bilhete mágico que abre as portas para entrar no comboio da linha, rumo à praia lotada.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Disco Disco Disco #9

Gino Soccio, produtor canadiano de origem italiana, é um dos maiores nomes da história do disco, conhecido por êxitos como "Dancer" ou "It's Alright". Não será nenhum destes temas que irei colocar nesta entrada. A escolha recaiu em "The Visitors", um tema mais tecnológico, com mais sintetizadores. O tempo não acertado torna esta faixa única, dando a sensação de uma aceleração constante. Esta "falha" não é mais que um corte na sequência das batidas um pouco antes daquilo que era esperado. Os restantes elementos são incluídos sobre esta sequência, como o arpégio do teclado-baixo, os arranjos agudo-electrónicos dos restantes sintetizadores e as vozes suavizadas, por vezes dobradas. O vídeo que acompanha o tema é um vídeo não oficial de imagens satélite sobre a Terra.



Artista: Gino Soccio
Faixa: The Visitors
Produtor: Gino Soccio
Ano: 1978
Facto: O tema "The Visitors" é o lado A do primeiro 12" de Gino Soccio, sendo o lado B "Les Visiteurs".

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mais uma semana

Voltava de manhã, no metro da linha verde e, em pleno Agosto de Lisboa, a carruagem estava cheia. O facto de serem oito da manhã e de estarmos na primeira carruagem podia não explicar a enchente matinal. Chegados aos Anjos, parte da multidão saiu, deixando os rapazes de calções de banho e de auscultadores nos ouvidos, que passavam música urbana de raízes africanas, mais sós. A gente que saía era trabalhadora, notei isso pelos rostos fechados e andar rápido, a caminho de mais um dia de tarefas. Sempre pensei que em Agosto a cidade ficava mais vazia, e fica. No entanto está cada vez menos vazia de gente neste mês quente e hoje começa mais uma semana de trabalho.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Após a Pós-Modernidade

Desde o início deste século que o mundo vive uma nova época. Tentando explicar o que se vive nestes tempos, filósofos e pensadores tentam chegar a uma ideia sobre este mundo após a pós-modernidade. O pós-modernismo nasceu e já está a morrer. Alguns escrevem sobre a altermodernidade e outros sobre a hipermodernidade. Conceitos diferentes que de certa forma se completam. Sim, estamos mais individualistas e excessivos, hipermodernos e lidamos simultaneamente com realidades simultâneas diversas, altermodernos. O passado é integrado nisto tudo, não é abandonado, é recuperado e vivido como se fosse o presente. O futuro é o próprio passado. O tempo é distorcido e os valores antes abandonados voltam em força, numa compressão de ideias e de contra-ideias que tudo relativizam. Apesar dos conceitos estarem próximos de uma verdade final, só possível com a chegada da tecnologia de massas, a ideia final dos tempos que vivemos só será cunhada com o abandono total da palavra modernidade e todas as suas derivações.