quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Santa-Cruz

A passagem precipita quase sempre decisões. Mais logo começa uma nova década. Estava há algum tempo para começar um micro-blogue, com forte componente visual e poucas palavras. Um regresso ao princípio e à razão que nos faz partilhar uma coisa e não outra. Não queria fazê-lo sozinho e tive de convencer a menina a aceitar esta dança. Existe a partir de hoje uma nova hiperligação, ali do lado direito, para o Santa-Cruz. O Santa-Cruz é um Tumblr. Uma colecção de imagens, sons e algumas palavras que junta num só sítio aquilo que nos chama a atenção, nos move e nos marca. Numa altura que já não existe valor associado a quase nada, uma boa selecção sem orientação é o que se quer. O caos e a complexidade. Há quem lhe chame altermodernidade, mas de facto é apenas mais um depósito de inúteis.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco, Os Golpes



Chego, enfim, ao disco nacional mais marcante do ano. Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco, d'Os Golpes. Antes de iniciar a justificação para esta escolha informo já que há uma boa selecção de discos nacionais do ano aqui. Prossigo então. Há muito tempo atrás, há mais de dois anos, vi a banda que iria mudar o percurso da minha vida. Chamavam-se Os 400 Golpes e tocavam com uma urgência impossível de ignorar em locais obscuros de Lisboa à luz do dia para cinquenta pessoas. O disco que chegou às bancas este ano é o reflexo de parte desta imagem. Mais de metade do disco estava feita já nessa altura. Os fatos mudaram, as letras e o nome encurtaram e os arranjos tornaram-se mais eficazes. Mas a urgência não desapareceu. Faltava apenas um rumo, um objectivo. Assim terá nascido a Amor Fúria. Assim nasceram Os Golpes. Mais do que ser eu a escrever sobre este disco, deixo algumas citações que se perderam com o tempo e nunca chegaram a ser gravadas. Fazem parte, na minha opinião, do processo que levou ao disco. Unificam o seu espírito. Resumem toda esta violência. Para mais tarde recordar:

Estou no centro do meu país

Galgos de dentes brancos a brilhar

Sabes a vida não é só esta canção
Mas não há muito mais a acrescentar


A partir daqui a vida mudou. A partir daqui nada é impossível. O passado, o presente e o futuro está nas nossas mãos.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Tiago Lacrau: Saulo Caiu ao Chão

A canção nacional mais marcante do ano é a "Saulo Caiu ao Chão" de Tiago Lacrau. No ano do uso e abuso das amostras para fazer novas melodias e certamente influenciado por discos estrangeiros, Tiago Guillul, sob o pseudónimo Lacrau, resolveu gravar um disco a meias com Te Voy a Matar, projecto a solo de Silas Maldito d'Os Pontos Negros. Nesse disco, O Verão Nostálgico do Tiago Lacrau, surgem quatro temas de Tiago Lacrau com o uso de amostras de outros para fabricar novas canções. Dos quatro chamo a atenção para o primeiro do disco. Amostra do genérico de uma série infantil dos anos 80, guitarra, orgãos e voz por cima e assim se faz mais uma canção. Deixo aqui a letra, a visão protestante de Tiago Lacrau. É a canção mais marcante do ano, não é a melhor. Por isso abro a excepção: a melhor talvez seja "A Era Moderna" d'Os Velhos.

Eles sabem muito mas não sabem
Que Saulo caiu ao chão
Eles lembram muito mas não lembram
Que Saulo caiu ao chão
Eles dizem muito mas não dizem
Que Saulo caiu ao chão
E Saulo caiu ao chão

Deixa os meninos cantar
Que Saulo caiu ao chão

domingo, 27 de dezembro de 2009

Washed Out: Belong

No ano passado não dividi a questão da melhor canção do ano. Como este ano resolvi destacar apenas os momentos mais marcantes decidi dividir a canção mais marcante do ano em nacional e internacional. Começo pela internacional. A canção internacional que marca o ano de dois mil e nove é a "Belong" de Washed Out. É a primeira canção da K7 High Times que dominou o meu Verão de Outubro. Quando escutei o alinhamento da K7 não conseguia ultrapassar a primeira faixa tal é o apelo pópe inerente à canção do início ao fim. Também ajuda a compressão intrínseca a todo o tema e a reverberação incrível na voz de Ernest Greene. Sonhadora, pacificadora e ao mesmo tempo a canção ideal para uma sessão de aeróbica seguida de alongamento. Como prova o vídeo não-oficial que já circula na rede. Só falta a demonstração que a amostra escondidíssima de "Belong" é da "Englishman in New York" do Sting. Excelente.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ducktails, Ducktails



O disco, ou o alinhamento específico de canções por um mesmo artista, mais marcante do ano é de ducktails. O disco homónimo de ducktails, lançado pela Not Not Fun Records. A mesma de Sun Araw, Inca Ore, Super Minerals, Pocahaunted, por exemplo. O disco é um manual. Um manual para quem trabalha amostras e para quem constrói novas melodias sobre as mesmas amostras. Existe outra grande lição a retirar destas canções, a utilização abusiva da repetição. Basta pegar na canção "Beach Point Pleasant", uma amostra que dura cerca de dois segundos em sequência durante mais de quatro minutos. O último tema também é uma lição de como onze minutos podem fazer a diferença para um tema de apenas dois ou três. Depois há a produção. Efeitos de reverberação, filtros e compressão. Para dar às canções o efeito rádio AM que parecia ter morrido com a chegada dos ficheiros áudio comprimidos. Para além disso, ducktails é referido no artigo mais odiado do ano, "Hypnagogic Pop" por David Keenan, ao lado dos inevitáveis The Skaters. Importantíssimo, portanto. Foi também a partir de ducktails que cheguei à trilha sonora que me acompanhou praticamente o resto do ano. Best Coast, Memory Cassette, Universal Studios Florida, e claro, Real Estate. Ou mesmo Toro y Moi e Washed Out. Não existe etiqueta para juntar isto tudo. Estas bandas tornaram o surgimento da próxima coisa grande uma miragem. A coisa mais grande do ano é ducktails e ninguém o conhece.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

John Maus na Zé dos Bois

Se no ano passado iniciei os escritos sobre os melhores do ano depois do Natal, este ano inicio as descrições dos momentos mais marcantes do ano mesmo antes da consoada. O concerto mais marcante do ano foi o de John Maus na Galeria Zé dos Bois. Lembro-me de ter chegado à porta para devolver o bilhete, visto que Wavves tinha cancelado, mas a persistência e a simpatia do Sérgio Hydalgo obrigaram-me a aceitar o desafio de ver apenas parte do alinhamento da noite. E ainda bem. O concerto de John Maus dessa noite foi um acontecimento. Apenas uma estação de trabalho de amostras com as produções pré-preparadas, um microfone e ficou feito. No princípio do concerto-karaoke estava mesmo em frente ao palco, do lado direito, junto à janela que separa o páteo e a sala de concertos. No fim estava lá atrás, no extremo oposto, a dançar com os conhecidos e os desconhecidos. Harmonias encantadoras, loucura, gritaria e danças tribais numa noite que marcou definitivamente este ano. Agradeci ao Sérgio na conclusão da noite e jurei que iria comprar o mesmo modelo de estação usada no concerto, a Roland SP-404, para que ela fosse o meu instrumento do futuro. Durante uma semana não ouvi praticamente mais nada sem ser John Maus e a partir daí a fronteira entre o bom e o mau deixou de existir. Tudo é bom. Tudo é mau.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A Escolha

Começar a entender que as escolhas e as decisões que se tomam no passado afectam o presente e o moldam. A relação que tenho com os outros e com Ele. E medito sobre isto tudo. A decisão de começar e de apostar neste presente e não noutro. Há sempre um dia, uma noite ou uma época em que penso sobre o que seria diferente se tivesse escolhido outro destino. Eu escolho o meu destino. O Natal é uma dessas noites. Que neste Natal eu saiba ser pequeno, simples. Que neste Natal o recolhimento alimente o desejo de oração, retiro. Para que desta forma aceite melhor a decisão e a escolha em ser Amante Furioso.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Terceiro Ano

Fim de semana frio e ventoso, mas agitado o suficiente para acabar deitado junto ao bombo da bateria de Wavves com mais uns meninos inadaptados à volta. O concerto não foi nada de especial, uma boa festa de liceu no entanto. Já é bastante bom. Estiveram melhor os Teengirl Fantasy, banda de instrumentos electrónicos e teclados, das amostras e das batidas House. No dia anterior bailou-se ao som d'Os Tornados e d'Os Golpes, numa festa de damas e cavalheiros, e acabei atrás dos leitores de discos compactos a misturar Smix Smox Smux com Queens of the Stone Age. Celebrou-se a entrada no terceiro ano. E numa altura em que se elegem os melhores, prefiro escrever sobre os mais marcantes. Este ano não existem melhores, só existem os mais marcantes.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Bandeira

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Terra Treme

Estou desde o início deste blogue para escrever a sério sobre o Sami. O Sami é o Samuel Úria. O Sami é acima de tudo uma grande alma. Além disso é grande artista, talento puro de quem não precisa de trabalhar para fazer as coisas bem. Mas entender isso só acontece sem o aconchego da produção discográfica. Ao vivo é que se entende tudo. E o Samuel Úria e a sua magnífica banda deram um concerto perfeito. A euforia tomou o meu assento e a certa altura era só desconforto por não estar ali à frente a cantar com ele. Excelso e único, Samuel Úria proporcionou momentos completos de entrega e partilha de beleza rara por estas paragens. Magnífica equalização e mistura de som do João Eleutério. Que Deus te guarde Samuel, pois a seguir aos teus concertos a Terra treme.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Caminho e Percurso

Aprender e estudar ao longo deste passeio a pé nas Avenidas Novas. Aceitar e compreender no caminho entre as obras da Duque D'Ávila. Lutar e ganhar sobre os túneis da João XXI. Agora já não há volta a dar, mas dá-la seria voltar ao início. Só faz sentido assim, desta forma. Como quem começa a andar. Como quem ainda gatinha como os homens. O percurso é longo e estreito, mas vai alargando quando o final se aproxima. De qualquer forma, da próxima vez talvez pesquise se a amostra já foi usada muitas vezes. Do Hip-Hop canadiano à banda sonora do Lost, este é mesmo o nosso tempo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Primeira Canção

A espera chegou ao fim e antes do fim do ano está terminada a mistura da primeira canção da banda O Verão Azul. Depois foi tratada com equalização, compressão, maximização e amplificação. Descobrir a mistura certa é como imaginar a receita de um bolo caseiro. Desde a pré-produção da faixa instrumental da amostra até ao efeito final reverberação das vozes passando pela sensação espacial de cada elemento. O segredo está na mistura. É com grande alegria que anuncio a primeira produção do almirantado. Basta seguir esta hiperligação e darão com a primeira canção de muitas que irão surgir nos meus espaços. A voz feminina é da Ana Pimenta, companheira de banda. Espero que gostem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Momento de perda

Gravar e registar o momento é sempre um momento de perda. A partir daquele momento deixa de ser possível alterar o modo de cantar e de entoar aquela letra e aquela palavra. Ficará eternizado aquele momento e não outro. Aceitar isto é violento. Violento porque implica perder a possibilidade de alterar aquela pista e significa o fim da liberdade. Também nos arranjos é assim. Grava-se aquela linha melódica e não outra e passadas umas horas já queremos experimentar uma nova melodia, um novo arranjo. Violência e perda dão origem a sentimentos de frustração e possessividade. Esta é a dura consequência da partilha e do registo momentâneo de algo que está em constante evolução.

domingo, 6 de dezembro de 2009

No Salão de descanso

Afinal foi no Teatro Tivoli. O regresso aguardado da Vitoria Legrand e de Alex Scally. Confesso que já não consegui assistir ao concerto. Como não assisti à maior parte dos espectáculos. Primeiro dia com Quais, Samuel Úria e Voxtrot. Segundo dia com Golpes, Little Joy e Kap Bambino. E está fechado. Hoje é um dia diferente e chegou a hora de gravar o que falta ser gravado para ainda antes do fim do ano colocar uma canção no tocador num dos nossos espaços. Depois de mais um festival na Avenida, faz cada vez menos sentido ficar só a assistir. Chegou a hora de deixar a azáfama dos bastidores, deixando à espera o resto da banda no salão de descanso e dedicar-me apenas a ela e à banda.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bonita Hora

Que bonito, Fachada. Já escutei na íntegra o novo disco do B Fachada. Uma parte do pedido natalício já foi satisfeita. Das notas impressas neste novo disco inteiro já gosto mais. E da maioria das canções também. Tenho cá para mim que é este disco que vai pôr o Fachada a tocar nas rádios menos alternativas e a percorrer os pianos deste país. Será com este disco, ligeiro e mais romântico, que chegará ao coração das mulheres. Perdem-se as camadas da Viola Braguesa e os devaneios do Fim de Semana para o piano, as valsas e as harmonias consonantes ganharem. As letras são as dele, como sempre. Um disco-emblema e de autor. Assim, sem qualquer etiqueta. Era hora.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Bilionária

Há demasiado tempo que não escrevo sobre uma produção recente do Hip-Hop R&B. Uns dizem que o estilo já morreu há uns anos e voltou a morrer há umas semanas. Longa vida aos mortos. Por isso chamo a vossa atenção para uma das mais recentes produções de Polow da Don. Escrevi sobre ele o ano passado e este ano ainda não. Polow da Don produz o single de 50 Cent com o Ne-Yo, o "Baby by Me". 50 Cent, gigante. Ne-Yo, sedutor. Polow da Don, produtor. "Baby by Me" tem aqueles graves das primeiras produções de Polow e as partes mais delicadas de um bom êxito MTV. Faz todo o sentido, portanto, espetar aqui em baixo o vídeo de mais um bom tema Donoiano.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pedido Natalício

Primeiro dia do último mês do ano e convencionou-se a ideia que lançar um disco, um longa duração, no fim do ano é uma má decisão comercial. Mas de comércio e de economia vivem mal as canções. É fim do ano então e as lojas estarão cheias de novos presentes e no meio deles dois discos, de dois cantores-autores próximos, que chegam às bancadas praticamente ao mesmo tempo. O do Samuel e o do Bernardo. Úria e Fachada. O tempo mostrou: há quem prefira a independência, individualidade e produtividade e há quem seja fiel à sua casa para sempre. Acredito surdamente que haja canções belas e sussurrantes nos dois discos à espera da minha compra natalícia. Como não compro nada no Natal alguém me ofereça então estas canções de fim de ano. É um pedido natalício.